No entardecer de quarta-feira...
Embarquei no ônibus errado, de propósito, depois que a minha irmã ligou dizendo que eu estava atrasada e era pra pegar o primeiro ônibus que passasse mais perto de Ana Rech, que pra quem conhece sabe o quanto é longe! Uma informação também para aqueles que conhecem: Peguei o Brasília!
Bem, eu já vinha de um dia torturante, com altas, baixas e baixíssimas, indo fazer algo contra a minha vontade até que peguei aquele bendito ônibus que não me levaria até o meu destino final.
E sabe, ainda bem que ele não me levou até o final!!
Desembarquei de uma viagem e embarquei em outra. O céu estava naquele tom amarelo-avermelhado, no topo das árvores podia-se ver a luz forte do sol e a brisa leve e fria típico de um fim de tarde primaveril. Nos meus ouvidos, barulhava um som do Capital Inicial (“Nem tudo é como você quer, nem tudo pode ser perfeito, pode ser fácil se você ver o mundo de outro jeito...”), nos olhos algumas pequenas gotas que se forçadas, viriam a ser lágrimas. Andei sem muito pensar, sem muito olhar para os lados, fui desprezando alguns olhares e algumas “buzinações” vindas de carros loucamente rápidos e com um som ensurdecedor, que por sinal nada me agrada.
Aos pouco me abri, olhei um pouco mais alto do que olhava antes, vi ao meu redor alguns pássaros, algumas pessoas correndo ou caminhando, um senhor passeava com um cachorro daqueles de brincar na neve (eu dizia isso quando criança) de raça Husky Siberiano (talvez). Ele disse-me boa tarde, eu olhei para trás, procurando encontrar alguém por perto, o qual seria destinado o cumprimento, mas acho que era para mim. Me senti um pouco mal depois por não ter respondido, mas continuei... Um amigo que há tempos não via parou do meu lado com sua moto, juro que pensei que seria assaltada, e quando o reconheci dei um abraço e só, continuei andando. Não estava lá de muitas palavras não, eu estava era para o pensamento. O Ladir (meu parceiro de trabalho, meu amigo, meu paizão e por aí vai) passou por mim e buzinou tão alto que dei um pulo,um pulo de verdade. Algumas pessoas que corriam por ali deram risada... Eu já estava na metade do caminho, minha irmã já havia me ligado cinco vezes no mínimo e eu ia a passos lentos, no momento ouvindo Los Hermanos (“Posso ouvir o vento passar, assistir a onda bater, mas o estrago que faz a vida é curta pra ver...”) Ah claro, o vento! Esse sim era tão lindo e cheiroso, trazia o aroma da primavera, das rosas desabrochando, dos copos de leite e dos jasmins floridos. Meu cabelo era embalado por seu condutor favorito e se movia tão devagar ao passo de uma valsa, eu sentia arrepios de emoção, de felicidade, de tristeza, de saudade e de frio também! Não sabia se ia ou se permanecia, era um momento só meu e de mais nada, nem ninguém. Não havia preocupação com família, estudo, trabalho ou amigos/amores. Nem eu existia, eu era apenas um pequeníssimo detalhe dentro de um pôr do sol memorável, eu era um ponto minúsculo implantada na aurora dos sonhos de alguém. Um sonho era o que eu vivia... Andei mais alguns minutos, não sei quantos foram, mas foi muito menos do que eu gostaria de ter andado. Cheguei ao meu ponto final, minha irmã e minha amiga me aguardavam impacientes talvez, ou apenas cansadas do dia de trabalho. O engraçado é que elas nem sequer sabiam o quão longe eu havia estado e que jamais teria palavras para agradecer por terem-me feito pegar o ônibus trocado!
Restinhos desse lugar que viajei enquanto andei ainda estão em mim, para provar que toda imaginação carrega em si um pingo de veracidade!
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